Taffarel elogia goleiros da seleção e diz: “O Cássio é o melhor que atua no Brasil”
Treinador de goleiros da seleção concedeu entrevista coletiva na Granja Comary
A seleção brasileira segue a preparação para a disputa da Copa América, que começa no dia 14 de junho. Nesta quinta-feira, Cláudio Taffarel, preparador de goleiros da seleção e campeão na época de jogador, conversou com os jornalistas na Granja Comary.
Taffarel não fugiu de nenhuma pergunta e elogiou bastante os três goleiros convocados: Alisson, Ederson e Cássio. Ao ser perguntado se os dois que jogam no futebol europeu estão entre os melhores, Taffarel disse que sim. O preparador disse também que a escolha por Cássio foi em conjunto com Tite e elogiou o goleiro do Corinthians.
“Escolhemos juntos. O que pesou mais a favor do Cássio foi o retrospecto a seu favor. Esteve conosco na Copa do Mundo e já sabia como funcionava o nosso esquema de trabalho. Mas claro que não foi só por isso. É um excelente goleiro, que faz um grande trabalho. O parâmetro é a Europa. Não quer dizer que ele não seja um bom goleiro. Ele é o melhor do Brasil. Claro que gostaríamos que ele estivesse na Europa, mas nós confiamos nele”, disse Taffarel.
Confira outros trechos da entrevista de Taffarel
Título da Copa de 94
“A vitória mais marcante da minha carreira. Um reconhecimento que existe pela conquista do tetra, a expectativa dos 24 anos sem título. Depois ganhamos em 2002, mas essa vitória marcou muito também aquele grupo. Sofremos nas eliminatórias, foi muito marcante. Teremos uma comemoração mais para frente, principalmente para os jogadores. Provavelmente na mesma data da conquista.”
Goleiro tem que jogar com os pés?
“Goleiro tem é que jogar, seja com os pés ou com mãos. Muitas vezes a participação dele é mais determinante com o pé do que com a mão. Hoje muitos treinadores querem que os goleiros saiam jogando com o pé. Óbvio que tem momentos que o goleiro tem que dar o chutão. Nós temos bons goleiros, como o Ederson, que jogar com os pés para ele é importante. Isso tudo é fruto de treino.”
Mercado de goleiros
“Acho que foi mais a descoberta, para dizer a verdade. Fiquei muito tempo lá fora. No passado, quando se falava do goleiro brasileiro, diziam que não era tão bom. Hoje é diferente. O time precisa ter um goleiro de confiança, a escola melhorou. Em 1982 diziam que o Brasil não tinha goleiro. O Waldir Peres não teve culpa nenhuma, é só olhar os gols. Mas isso é fruto de muito trabalho. Hoje o pessoal quer os goleiros brasileiros, o mercado está se abrindo e vai se abrir fortemente aqui no Brasil. Aqui no Brasil as equipes estão apostando muito nos goleiros experientes. Não se aposta muito nos jovens, até gostaria para dar sequência. Mas se o mercado deles for lá fora, vamos seguir.”
Alisson e Ederson
“Jogam no mesmo campeonato. O nível é igual das duas equipes, pesa mais é a sequência que o Alisson tinha aqui na seleção. Mas isso não é definitivo. Eu vi muito o crescimento do Ederson aqui na seleção. No início era introvertido, fechado. Hoje tem outra personalidade. Vai jogar o amistoso agora. É ouro comportamento. Estamos felizes com o desemprenho dele. Mas de todos também.”
Início de preparação
“Estamos treinando bem. Chegou outro preparador antes, chegou antes de mim. Começou o trabalho com o Ederson. Talvez o Ederson esteja um pouco cansado porque jogou bastante essa temporada. Mas está treinando muito bem. Com a chegada do Alisson e Cássio vamos seguir o mesmo trabalho, a mesma linha. Depois dar uma abaixada, o pessoal vem de uma temporada. Mas temos que nos preparar forte para a Copa América.”
Neymar sem a faixa de capitão
“O Tite adota o rodízio, o jogador se sente à vontade. Não acho que se tirar a braçadeira do Neymar vai ser de forma muito punitiva. Não vejo assim. A seleção tem vários jogadores de confiança, vários líderes.”
Experiência como quem já participou
“Estou passando essa experiência. Hoje estávamos fazendo uma entrevista, e eu disse que eu não trago aquela bagagem de mundial. Eu venho como se fosse a primeira vez. E não importa se é a primeira ou a última vez, você tem que encarar como se fosse o último dia. Temos que concentrar nesse momento especial aqui. Vamos trabalhar e acho que a palavra fundamental para esse momento é “ganhar”. No final o que vai contar é a vitória. Esse é uma competição para ganhar, não para jogar.”
Preparação sem estar com o time completo
“Ideal seria contar com os 3. Não só os goleiros, mas como todo grupo. Mas no futebol é assim. A gente procura se adaptar. Vieram os garotos que a gente confia. Os próprios dois goleiros (Yuri Sena e Phelipe) no futuro a gente pode estar com eles aqui na seleção principal. Trouxemos jogadores que já estiveram aqui dentro e isso é importante porque eles já conhecem o Tite, o esquema de jogo.”
O passado pode ajudar?
“A gente não pode se apegar ao passado. Temos que voltar a vencer, não podemos ficar tanto tempo sem vencer. Não podemos olhar para os vizinhos, como a Argentina, que está muito tempo sem vencer. Temos que olhar para o nosso e voltar a vencer. Vamos nos preparar também para as surpresas que podem surgir.”
Importância do torcedor
“Acho que a tolerância é sempre igual. Torcedor brasileiro é acostumado a ver a seleção bem, vencendo e ele quer isso. Estamos preparados para começar bem a Copa América e queremos o torcedor do nosso lado. Não queremos que eles nos critiquem porque sabemos que se eles nos apoiarem vai ser muito importante.”
Esquema para o amistoso contra o Catar
“Estamos dependendo da logística. Mas acho que o Alisson irá se apresentar diretamente em Brasília. Mesmo que não tenha condição de jogar, que possa estar no banco para ajudar. Não devo levar os garotos.”
Dificuldade da Copa América
“A Copa América é muito difícil. São boas seleções, que jogam duro, pegado… não é fácil. Em 1989 nós ganhamos e foi muito pegado. Ganhamos, mas o sofrimento foi grande. Por isso eu disse que temos que estar preparados. Precisamos do torcedor porque não vai ser fácil. Temos que trabalhar e fazer o melhor em campo. Dar o máximo e entregar 100%.”
Se fosse o goleiro hoje em dia, preferia enfrentar Messi, Suárez ou Neymar?
“O Messi é um grande jogador. Talvez na seleção ele não tenha conseguido aquele desempenho do Barcelona, mas se eu fosse o goleiro pediria sempre dois marcando para não deixar sozinho. O Suárez tem aquele estilo sul-americano. Joga muito duro, bem pegado. O Neymar está se preparando. Está bem focado, querendo fazer bem o trabalho. Então vamos apoiar o Neymar nessa Copa América.”
Como o Taffarel se define em Copas Américas
“Foram altos e baixos. A de 1995 foi doída. Um gol de falta, numa falta muito bem batida. Talvez se eu tivesse colocado um homem a mais na barreira… a seleção brasileira é sempre cercada de muitas críticas. Eu ganhei bastante, mas eu também perdi. Eu quero mostrar isso, quero mostrar que isso é normal. Eu sempre cresci muito na minha carreira quando eu perdi. Porque quando se ganha todo mundo te elogia, te coloca para cima. E quando se perde você coloca os pés no chão e melhora. O Taffarel da Copa América é isso aí: altos e baixos.”
Quem é o melhor goleiro do mundo?
“Nossos goleiros estão entre os melhores do mundo. Não é fácil dizer isso hoje quem é o melhor do. O Neuer antes estava numa fase que não tinha como negar que ele era o melhor. As lesões talvez tenham o atrapalhado. Temos grandes goleiros no mundo como o Alisson, Ederson, Courtois. Mas eu gostaria muito que os nossos goleiros estivessem entre os incontestáveis no mundo.”
Final da Champions League com o Alisson disputando
“Dá um nervosismo. Vamos assistir aqui e torcer para que ele faça um bom jogo. Vai ser uma partida interessante, com duas equipes que fizeram boas campanhas e vamos ver aqui e torcer por um bom jogo.”
Pressão de ser goleiro
“Eu falei dos episódios que eu sofri. Quando você sofre um gol você pensa muito mais no dano que pode abalar para a equipe. Não é como no tênis que se eu errar eu erro sozinho. No futebol se eu errar eu comprometo a todos.”
Tite diz que quer jogar bem; Taffarel que ganhar. Quem está certo?
“Eu vou muito na emoção, o Tite mais na razão. Eu vejo as palestras dele e ele vai muito na clareza. Não temos como controlar o resultado, mas temos que saber como vencer. Em 1994 foi assim, nós dizíamos que iriamos ganhar e nós queremos isso aqui. Queremos que os jogadores tenham essa confiança antes do jogo começar. Estava falando com o Casemiro esses dias e ele estava dizendo isso, que realmente temos que ganhar. É bom ver isso.”
Gabriel Jesus disse que a seleção estacionou. Concorda?
“Se viesse todo mundo com o mesmo discurso não seria legal. É bom ver que cada um pensa de um jeito. Não concordo que nós estacionamos. Evoluímos, jogamos bom futebol. A gente só deixou de ganhar, mas nós apresentamos um bom futebol. Se tivéssemos ganhado a Copa do Mundo ninguém tinha falado que tínhamos estacionado.”
Reconhecimento dos goleiros brasileiros mundo afora
“O Alisson é muito perfeito. Já saiu do Internacional muito pronto. Hoje no Liverpool mostra um futebol de muita qualidade. Joga com os pés também. O Ederson é muito tático também, um excelente goleiro. Acho que estão entre os melhores. Por isso esse reconhecimento lá fora.”
Histórias parecida com a de Alisson
“São histórias semelhantes. Somos da mesma escola. Escola técnica, bem perfeccionista. Começamos no Internacional, de repente tem a chance na seleção, às vezes vem as críticas. Mas você tem sempre a linha de trabalho. Eu sou mais bravo, ele é mais bonito.”
A seleção brasileira estreia na Copa América no dia 14 de junho, às 21h30 (de Brasília), contra a Bolívia. O jogo será no Morumbi, em São Paulo. Antes, porém, os comandados de Tite fazem dois amistosos. O Catar será o primeiro adversário, no próximo dia 5, em Brasília. No dia 9, o adversário será a seleção de Honduras, em Porto Alegre.