Confira os adversários do Brasil na Copa do Mundo 2022
História e momentos atuais de Suíça, Sérvia e Camarões, desconstroem a narrativa do "grupo fácil"
História e momentos atuais de Suíça, Sérvia e Camarões, desconstroem a narrativa do “grupo fácil”
por Edu Gomes
Coluna “Conexão Clubes do Rio”
No dia em que teremos decidido qual clube será o campeão carioca de futebol em 2022 (Fluminense e Flamengo se enfrentam hoje às 18h no Maracanã pelo segundo jogo da final estadual), mais uma vez peço licença às agremiações do estado para falar de algo que vem de fora. Mas dessa vez, acima de tudo, se justifica: trata-se da Copa do Mundo, que ocorrerá entre novembro e dezembro desse ano no Catar.
Ontem (01) tivemos o sorteio dos grupos da Copa e o Brasil, que ficou como cabeça de chave do grupo G, já conheceu seus adversários: Suíça, Sérvia e Camarões. Para muitos essa chave, que possui duas seleções que também estavam no grupo brasileiro em 2018 (as europeias Suíça e Sérvia), foi definida como uma “baba”, “fácil demais”, “moleza para o Brasil”. Mas será que é tão fácil assim mesmo? Já afirmo que, na minha opinião, quem assim definiu os adversários iniciais do Brasil na Copa, demonstra não ter acompanhado muito o futebol de seleções ultimamente e talvez ainda viva no senso comum saudosista de que “o Brasil é o melhor de todos e tem a obrigação de vencer sempre”.
Analisando cada uma das seleções, a hipótese do “grupo fácil” cai por terra. Lógico que o Brasil é o franco favorito do grupo e tem plenas condições de passar em primeiro para as oitavas. Mas fácil? Aí já são outros quinhentos…
A Suíça, por exemplo, mantém uma sequência de respeito. No Catar, irá para sua 12ª disputa de Copa do Mundo, sendo a quinta seguida (disputa todas as Copas desde 2006, tendo nas últimas quatro edições passado da fase de grupos em três oportunidades). Além disso, vem de resultados expressivos em seu último ciclo.
Nas eliminatórias para a Copa, caiu em uma chave complicada, com Bulgária, Irlanda do Norte, Lituânia e a atual campeã da Eurocopa, a Itália. Com uma campanha invicta, de 5 vitórias, 3 empates (dois com os italianos) e nenhuma derrota, os suíços terminaram a chave na liderança com 18 pontos, mandando a poderosa e tetracampeã mundial Itália para a repescagem. Se não teremos a atual campeã europeia pela segunda vez consecutiva na Copa do Mundo, muito se deve à Suíça, que liderou a chave e fez com que os italianos fossem para a repescagem (onde acabaram eliminados para a Macedônia do Norte).
Além disso, nos últimos dois torneios grandes que disputou, a Suíça não fez feio. Na última Eurocopa, chegou nas quartas de final da competição, tendo eliminado nos pênaltis a atual campeã mundial França, nas oitavas, e sido eliminada apenas para a Espanha na fase seguinte, também nos pênaltis.
Na Copa de 2018, empatou por 1×1 com o Brasil na estreia de ambas as seleções no mundial. Ou seja, é uma seleção experiente, que vem de um bom ciclo e acostumada a jogar com grandes forças do futebol mundial. Na minha opinião, é a segunda força do grupo mas, terá que manter contra os outros selecionados o nível que alcança contra os mais fortes, para assim confirmar sua classificação na chave, como fez na Rússia quatros anos atrás.
A outra europeia do grupo, a Sérvia, também esteve na chave de Brasil e Suíça em 2018. Naquela ocasião, perdeu tanto para brasileiros (por 2×0) quanto para suíços (por 2×1), o que acarretou em sua eliminação na fase de grupos. Mas não pense que por isso a seleção serva deve ser desprezada. Uma das principais herdeiras do futebol da antiga Iugoslávia (que nos anos 1990, inclusive, ficaram conhecidos como os “brasileiros do Leste Europeu”, pelo bom futebol apresentado), a Sérvia teve um ciclo de evoluções desde a última Copa na Rússia. Desde 2006 (ainda como Sérvia e Montenegro), esse será o quarto mundial da Sérvia, tendo ficado de fora apenas da edição do Brasil em 2014. A seleção tenta se afirmar no cenário mundial do futebol após o fim da Iugoslávia, país que disputou nove copas até 1998 e que a Sérvia é considerada, tanto pela FIFA quanto pela UEFA, como sua herdeira direta.
Se o mundo do futebol esperava um confronto na repescagem europeia entre Itália e Portugal para decidir assim quem iria para a Copa (que acabou não ocorrendo, devido a eliminação inesperada da Itália para a Macedônia do Norte), foi porque, assim como os suíços mandaram os italianos para a repescagem, a Sérvia fez o mesmo com Portugal. E com autoridade!
As duas seleções, que estavam no Grupo A das eliminatórias europeias, chegaram na última rodada empatadas com 17 pontos. E o último confronto seria exatamente entre Portugal e Sérvia, na casa dos portugueses, que com um empate se garantiriam na Copa por terem o melhor saldo de gols. Portugal ainda saiu na frente no Estádio da Luz, em Lisboa. Porém, com um gol de Tadic e outro de Mitrovic, esse aos 45 minutos do segundo tempo, a Sérvia superou a pressão dos donos da casa e carimbou o passaporte para o Catar, jogando os portugueses para a repescagem (onde, após baterem Turquia e Macedônia do Norte, também alcançaram a vaga). A campanha sérvia nas eliminatórias foi impecável: 6 vitórias, 2 empates e nenhuma derrota, confirmando a boa fase da seleção do leste europeu e botando ainda mais fogo no grupo do Brasil.
Para fechar a chave, temos Camarões. Seleção que ficou marcada na cabeça dos brasileiros por ter eliminado nossa seleção da competição de futebol masculino nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. Em Copas do Mundo, Camarões chega para sua oitava disputa, voltando ao torneio depois de ter ficado de fora da edição de 2018, na Rússia.
Assim como nossas outras concorrentes, e além de carregar todo o “DNA” da seleções africanas, a equipe de Camarões fez um ciclo muito bom nos últimos anos. Campeã da Copa Africana de Nações em 2017, alcançou no mesmo torneio as semifinais em 2021 (em edição que ocorreu em janeiro de 2022, devido a pandemia), tendo caído apenas nos pênaltis para o Egito de Mohamed Salah. Depois, garantiu o terceiro lugar ao bater Burquina Fasso, também nos pênaltis.
Nas Eliminatórias para a Copa, caiu em uma chave final complicada, com Costa do Marfim, Moçambique e Malawi. Liderou o grupo com 15 pontos em 6 jogos (sendo cinco vitórias e apenas uma derrota), tendo depois, na decisão final, garantido a vaga ao passar pela Argélia, em confronto muito equilibrado. Costumo dizer, pelo grande número de seleções e o fato de muitas dessas serem de níveis similares, que as eliminatórias africanas são as mais complexas para se garantir a classificação para a Copa do Mundo. Mesmo assim, Camarões conseguiu com êxito, chegando à sua oitava Copa, sendo a sétima dentre os últimos nove mundiais desde 1990. Se não é tão badalada como o Brasil, nem possui a “chancela europeia” de Suíça e Sérvia, Camarões todavia chega na chave como um franco atirador que pode, e muito, surpreender e brigar por uma vaga nas oitavas.
Portanto, de fácil esse grupo não tem nada. E o estudo das seleções, de suas histórias e fases recentes, demonstram isso. Considero esse, junto com os grupos H (Portugal, Uruguai, Gana e Coreia do Sul), E (Alemanha, Espanha, Japão e Costa Rica/Nova Zelândia) e B (Inglaterra, EUA, Irã e País de Gales/Escócia/Ucrânia), um dos mais equilibrados e difíceis da Copa.
O que não quer dizer, entretanto, que o Brasil não seja de longe o favorito da chave. Assim como é um dos principais favoritos ao título do torneio. A nossa seleção possui, claro, todas as condições de passar em primeiro do grupo, inclusive com 100% de aproveitamento. Mas não será fácil. Serão jogos duros! E se ficarmos naquela narrativa saudosista do “somos o país do futebol e vamos bater em todo mundo com certeza”, sem estudar e respeitar cada um dos adversários que teremos pela frente, a surpresa negativa pode acontecer.
Mas o técnico Tite, tenho certeza, está ligado nisso e não irá cair nessas armadilhas na busca pelo hexa!
Que venha o Catar! Pois o clima de Copa, já começou….